sexta-feira, 15 de agosto de 2025

A família que nunca tive

 Estar entre todos eles é perfeito. Me sinto com os pensamentos fora, em algum lugar que jamais serão encontrados. Em algum lugar que jamais encontrarei. Mas são reais? São palpáveis? São meus? Onde eles começam e eu termino? Onde eu começo e eles terminam? O que é meu e o que é deles?

Nunca, em toda minha vida, pertenci tanto. E ainda sim não pertenço. Ainda sim não sou toda. Não sou eu. Não sou estável. Sinto que perderei. Que aqueles beijos e abraços foram os últimos. Que eu já fui a última em algum dia. Que já me tiraram “for granted” e eu também. Mas que um dia não nos veremos mais. E esse dia lamentaremos. Mas a despedida já vai ter ocorrido. Naquele último tchau. Naquele último abraço.

Obsessão

Obsessão. Cegueira. Não vejo mais que 2 metros na minha frente, apenas vejo você. O mundo parou, o tempo não andou, e de repente só tinha você ali. A interrogação vai se transformando em linhas e linhas da sua história. Você vai se personificando e deixando de ser dúvidas para ser um indivíduo repleto de identidade. Alguém cheio de medos, terrores, defeitos, mas também com qualidades louváveis, com uma beleza indescritível tanto interna como externa. “Você vai se apaixonar”, você disse. Momentos depois você disse que eu evito sofrer. E que eu sou incoerente. De fato.

Eu tenho que te proteger

 Eu tenho que te proteger de mim. Te proteger das minhas vontades, da minha loucura e da minha sina. Eu tenho que te proteger dos meus vícios, da minha imaginação, dos meus desejos e dos meus erros. Eu preciso te proteger do meu lado obscuro, da face que ninguém conhece, da maldade e falta de caráter que habita em mim. Eu necessito que você esteja protegido de mim. Esteja armado e blindado contra tudo que há de pior em mim. Que eu não seja usada como arma em você, para te ferir e te magoar. Que eu seja abrigo, porto seguro e não local de partida, de dor e sofrimento. Que eu seja sempre sua porta de entrada, o seu local de embarque e jamais seu local de partida, sua despedida e seu adeus.

Eu preciso te proteger de mim. Será que eu vou conseguir?

O amor

 O amor é multifatorial. Amamos alguém porque conhecemos todas as faces e fases de alguém. E por elas - e apesar delas - amamos. Escolhemos amar. Aprendemos a amar. Amar é tolerância. É respeito. É descoberta. É troca. Amar é a plenitude de saber que tudo em você ama tudo no outro. Que mesmo os mais horrorosos defeitos, que os mais graves erros e as falhas mais perversas de alguém, se encaixam dentro do que você tem como fundamento. Quando se ama, nada é tão perverso, horroroso e grave. E não é, não pela relativização de um fato qualquer, mas pela compreensão de que você também possui erros, defeitos e falhas, e que estas estão dentro da mesma caixinha que está o outro. Amar é, com o tempo, se parecer com o outro. É se identificar, mesmo em aspectos sutis. É ver no outro o abrigo no final da tempestade. É ter um lar para voltar. É entender o silêncio como um texto e o olhar como uma canção. Amar é pleno. Quem ama, ama pela paixão e apesar dela.

A paixão, todavia, é outra coisa, facilmente confundida.


September 16, 2023 1:16 PM