O escravo da bebida nunca será sábio.

Sete horas da manhã daquele dia. Pôs-se a chorar por não lembrar do seu ultimo luar. Sentiu na pele um arrepio. Na cabeça um peso, desejo, medo. Algo a convencia de que boas coisas não acontecera. Sorriu ao ver alguém do seu lado, todo de branco e... Era um enfermeiro. Bonito, até. Ele a perguntara como estava. Se perguntou como estava. Fato que estava confusa, com duvidas, com mais medo que o costume. Lembrou dos amigos, da festa, das latas de cerveja, do litro de vodka, do carro... Do carro! Era até ali que a sua memória a permitia lembrar. Queria saber o que acontecera depois que entrara naquele carro. Sentiu-se envergonhada por não se lembrar. Perguntou ao belo rapaz de branco, que agora se encontrava de costas.

- Você não se lembra? _Respondeu o enfermeiro.

- Não, não consigo me lembrar. _Retrucara a jovem.

A expressão do rapaz era algo relacionado a uma tristeza; uma tristeza que deixara Katherine ansiosa.

- Diga logo, o que aconteceu! _ Seu tom de voz mudara repentinamente.

- Um acidente na 28 de março. O carro que você estava perdeu o controle, entrou na contra mão e foi atingido por uma caminhão. _ O espanto tomou conta do coração da jovem.

- Sim mas, e os outros? Aonde estão? Se machucaram muito? Estão bem?

- Eu sinto muito mais... morreram todos no acidente. Por um milagre, você esta viva.

Disse o enfermeiro com pesar a frase que, com tristeza, encontrou coragem para completar. Katherine não conseguia acreditar naquilo. Quis gritar, correr, checar a realidade. Um milagre? O que o enfermeiro quis dizer com aquilo? Foi quando conseguiu se lembrar do acidente, do caminhão, da visão... Então se deu conta de que quem estava dirigindo aquela noite, era ela. Pior que a morte, Katherine levou a culpa, pelo resto de sua vida.

“Quem é que grita de dor? Para quem são as tristezas? Quem é que vive brigando e se queixando? Quem é que tem os olhos vermelhos e ferimentos que podiam ter sido evitados? É aquele que bebe demais e anda procurando bebidas misturadas. Não fique olhando para o vinho que brilha no copo, com a sua cor vermelha, e desce suavemente. Pois no fim ele morde como uma cobra venenosa. Você verá coisas esquisitas e falará tolices. Você se sentirá como se estivesse no meio do mar, enjoado, balançando no alto do mastro de um navio. Então você dirá: Alguém deve ter batido em mim; acho que levei uma surra, mas não lembro. Por que não consigo levantar? Preciso de mais um gole. (...) Quem procura ter sabedoria ama a sua vida, e quem age com inteligencia encontra a felicidade. (...) O escravo da bebida jamais será sábio.

(Provérbios, a sabedoria pratica.)